sábado, 23 de outubro de 2010

23 de outubro de 2010. Sete pontos em uma canela!





Dia bem nublado e mais um ligeiro atraso quase me fez perder o banco novamente na canoa de seis remadores. Mas alguns outros tantos atrasados fizeram com que fossem montadas tres canoas. Da Praia Vermelha sairam então quatro canoas havaianas contando com mais uma do Carioca Va_a. Na dupla foram Clóvis com Chicão e na individual Hugo Sanchez.



O mar estava tranquilo para o embarque e o desembarque e bem menos sujo do que ontem. A virada do Leme está bastante tumultuada ainda e a ama levantou algumas vezes mesmo antes de cruzar a reta da linha do Anel. Mas depois de traçada a reta para o Posto 6 uma ondulação deliciosa nos aconselhava a remar em direção à lage, passando por trás. Talvez em razão dessa rota traçada logo passamos a canoa feminina com Góis lemeando e chegamos junto da outra canoa masculina perto do Posto 6. Na canoa que lemeei só remadores queridos: Rogério, Ester, Carlinha, Hugo Caveira e Ulisses. Queridos, sincronizados e com vontade de remar pois a canoa fluiu muito bem.




Na lage as ondas estouram formando pequenos tubos mas nada assustador.
Passamos direto do Posto 6 para desespero de Ulisses que pensava que hoje seria uma remada de trajeto cotidiano. Ele está iniciando agora no vício matinal. Não Ulisses, iríamos um pouco além. Hoje nossa canoa realizaria um antigo sonho meu, entraríamos no canal do Jardim de Alah para deixar a canoa para um evento na Lagoa Rodrigo de Freitas no domingo. Ulisses rapidamente recuperou as forças com a novidade e as dicas que Carlota deu para ele poupar a energia na remada.



Antes de seguir para o Leblon, um mergulho no Arpoador com as outras duas canoas. Águas de temperatura gostosa e limpas. Lá na Pedra do Arpoador dezenas de surfistas aproveitando a ondulação grande para surf.
Retomamos o rumo em direção ao Canal em uma ondulação forte que jogava a canoa para o seu destino. Ondulação grande e forte e muitas vezes foi preciso pedir a Ulisses que se mantivesse remando do lado esquerdo para proteger a canoa estabilizando a ama.


Chegando perto do canal fizemos algumas rodadas para observar as condições. Passei para o banco um, na voga, e Rogério foi para o leme. Ufa, não me arriscaria num mar daqueles.


Ao longe víamos a comporta do canal fechada e a maré estava vazia, enchendo. O caminho até a comporta era de areia e não de água. Resolvemos seguir assim mesmo, empurraríamos a canoa na entrada. Rogério pediu Carlita para pular na água, nadar até a areia e ir sondar a possibilidade de abrir a comporta para passarmos.
- Carla, quando eu disser pula, você pula!
- tá...
- Carla, PULA!!!
- Aquiiiiiiiii?
- Pula Carlinha!
Depois ficamos sabendo a soca que ela levou. Certamente recordou da soca de ontem, só que pela descrição o caldo de hoje foi bem mais violento. Ali as ondas não brincam, vem quebrando desde lá fora com força e não só na beirinha como na Praia Vermelha. A soca não te joga para as beiradas mas sim para o fundo!
Carlinha não viu a tragédia que se seguiu logo depois. Havia ido lá na cabine procurar um funcionário para pegar informações sobre a abertura do canal.


Enquanto isso, na canoa... eu roía minhas unhas apreensiva brincando com Ester.
- Putz, está vendo a bandeira vermelha lá na areia?
- Tá com medo peidona?
- Medo? Estou em pânico!!!!
Antes de Carla voltar, e nos avisar que seria um desembarque kamikase, resolvemos desembarcar mesmo assim e ancorar a canoa na beiradinha. As beiradas do Rio viraram o pânico pelas beiradas... remadas para frente, hesitação, remadas para trás, vamos, não vamos, agora vamos...
Olhei de relance para trás e vi subir uma parede de água não muito acolhedora, remamos para trás e subimos com a popa a todo custo, mas a que veio atrás não nos deu essa saída. Não ouvi mais as vozes de comando de Rogério no leme e então percebi que iríamos mesmo para as beiradas. À força!


Era um mar de espumas sobre minha cabeça e meu braço erguido com o remo sacudindo como se numa máquina de lavar. A canoa encheu até a linha de cima e uma correnteza voraz me levantou do banco. Olhei o castelo da canoa lá na frente prestes a me arrebentar e ainda ouvi o Hugo gritando:
- Pulem da canooooooooooooooooaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!
Pular como cara pálida? Pareciam as comportas da Paulo Afonso sendo abertas nas nossas costas. Não ouvi um gemido de Ester, mas sei que como eu ela só foi pular da canoa quando milagrosamente encalhamos na beirada de bico. Como eu, foi caladinha e provavelmente de olhos arregalados! Rogério segurou muito bem a canoa na reta ainda que lotada de água, se virássemos de lado a história aqui contada seria outra. Com muito mais pontos e fraturas para contar!



Pega o balde, tira água, pega o bailer, tira a água, junta as mãos e tira água. Eu, Ester e Hugo tirávamos a água da canoa desesperadamente para poder torná-la mais leve e tirá-la do perigo de outra soca sobre nós na beirada. Ulisses, tentando se acalmar, recolhia que nem louco, remos, bolsas, garrafas, blusas espalhadas pelo mar de Ipanema. Mais tarde me contou que quando começou a remar e perguntou o que fazia o banco cinco, lhe responderam:
- Toma caipirinha e recolhe as coisas que vão ao mar no caso de virada.
É só uma piada para quem pensa que o remador do banco cinco é aquele de menos força, pois o banco cinco é um motor poderoso que ajuda o leme na segurança e na condução da canoa. Fama injusta! Mas foi bom o ensinamento pois ele seguiu a risca. Grande Ulisses, manteve a calma o tempo todo. Só não sei se por ser calmo mesmo ou se por não ter se dado conta do perigo que viveu. Ou mesmo porque já não aguentava remar e a soca ainda era melhor do que voltar tudo remando.


Ao longe Rogério saiu mancando em direção à areia ignorando nossos chamados para ajudar  a tirar a água da canoa e colocá-la  a salvo. Quando o vi largar o corpo sobre as pedras da mureta do canal entendi que havia se machucado. Machucou feio na canela. Sete pontos! Logo estavam ali os paramédicos para comprimir o corte e estancar o sangramento. Ficou feio o buraco!




Carla não se conformava com a precipitação da canoa, afinal ela havia descido justo para ver as condições. E as condições eram péssimas!
Dois taxis nos levaram até a Praia Vernmelha depois de acomodarmos  a canoa na areia, longe das águas que subiriam com a maré. Amanhã alguns remadores voltarão cedo para levá-la para a lagoa, isso se a maré e a abertura das comportas permitir.
Não foi dessa vez que realizei meu sonho, mas depois de passado o susto e estarmos no lucro com os sete pontos do Rogério, posso rir do pesadelo que vivemos! Poderia ser pior.  Um outro dia, quem sabe...



Ah... informação para o blog. Se voltássemos dali enfrentaríamos um vento nordeste castigando os sensatos remadores. Mas a insensatez nos poupou do vento e nos fez voltar em confortáveis táxis! Quanto ao conforto, não posso dizer o mesmo de nosso leme que pela experiência de manter a canoa reta na descida poupou os remadores mas esfolou a canela!

3 comentários:

  1. O banco 5 da canoa é muito importante! Tanto quanto todos da canoa! Deve remar forte para facilitar o leme, remar angulado qdo necessário e pular na ama qdo ela for virar... Nao é pouca coisa nao... Pedro Ceglia

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  2. Pensei que íamos de Maia na Macumba e foram de V6 em Ipanema!!!
    Já quebramos um remo dentro do canal. Aquele que fica em pé atrás do banco 6. Como a comporta estava bem baixa, todos se agacharam para passar mas esquecemos de avisar para o remo também se agachar!!!
    Melhoras para o Rogerinho!

    Abcs,
    Massimo

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  3. O Campeonato Carioca de Canoagem por Pontos Cirúrgicos tem um novo concorrente. Com os 7 pontos na canela obtidos pelo Rogério perdi minha posição no ranking (4 pontos no antebraço), mas a liderança continua com o Tarcísio que ganhou 14 pontos na bunda após uma passagem mal sucedida pela laje do Forte Tamandaré. O campeonato não tem data para acabar, portanto os interessados em participar podem continuar fazendo suas travessuras até pontuar. O comitê de arbitragem do Rocha Maia mantém abertas as inscrições indefinidamente.

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