Droga! Mil vezes droga para esse horário de verão. Esse início de postagem foge totalmente do espírito do blog, afinal as beiradas são para trazer leveza e notícia. Mas enfim, a remada de hoje foi inquieta começando com o telefone tocando às seis da manhã me avisando que havia esquecido de buscar Carlota. Ela já estava na praia. Meu celular não mudou o horário automaticamente!
- Putz Carlinha! Tem lugar para mim? Desculpe! Estou voando!
Não havia vaga para o carro e muito menos para eu sentar na canoa quando cheguei às 6:30. Duas canoas já estavam formadas e ao lado o comandante se ajeitava com Jurupi para ir ao encontro de Deborah em Charitas.
- Ops. Vou com você!!!
Mais do que depressa e sem dar bom dia direito para todos, corri para estacionar e buscar os apetrechos de Juréia. Quase não fotografo o nascer de sol estonteante que anunciava o fim da frente fria. Estava lindo!
Sabia que o mar estava gigante pois Carla me alertara na noite anterior. Talvez por isso ela resolvera deixar a canoa de seis e se oferecer para vir de dupla conosco. Acordei de ovo virado com o atraso sem ninguém para me cutucar e derrubar da cama e decidi ir só com Juréia, Comandante e Jurupi. Recusei o convite de sair de dupla.
As canoas do Praia Vermelha partiram então em direção ao posto 6. Soube depois que estava com uma ondulação grande. Rogério no leme chegou a partir o remo descendo uma onda. Ali das beiradas dava para perceber o lixo flutuante aos pés do Pão de Açúcar. Águas com temperatura boa mas com uma coloração escura e ainda muita espuma pelo caminho.
- Caráááááááááááááááácolessssssssssssssssssssss!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
De repente um I-MEN-SO navio passa rente a Jurupi e Comandante. Negro! Assustador! Como podemos desfiar um novelo de conversa tão longo e de questões existenciais tão cotidianas a ponto de acreditar que estávamos remando na orla de Copacabana bebendo côco?!!! Pô Comandante, que vacilo! Estávamos no canal!
- Lê, o navio nem buzinou!!!!!!!!
- Buzinar? Ele nem nos viu!!!!!!!!!!!!!!
Por pouco nossos escassos leitores perderiam as notícias do Trilhas do Mar e do Beiradas do Rio, nós sim viraríamos notícias estampadas na primeira folha de jornal. Já comecei a imaginar nossas cinzas sendo jogadas lá na Cotunduba com Kiki e o povo flutuante fazendo NAM MYOHO RENGUE KYO!
Do convés víamos o aceno dos msrinheiros e era tão próximo que suspeitei ver uma aliança na mão esquerda de um que falava baixinho... - cuidado...cuidado...
Do convés víamos o aceno dos msrinheiros e era tão próximo que suspeitei ver uma aliança na mão esquerda de um que falava baixinho... - cuidado...cuidado...
Passado o susto voltamos a surfar as imensas vagas com Jurupi e Juréia, porém com o cuidado de permanecer na linha do Forte Lage já que mais atrás vinha outro imenso navio carregado de containers. Lembrei novamente da Gaúcha dizendo que era a mudança dela.
Estava sem meu colete! Havia perdido no dia das crianças surfando no Posto 6. Perigo! Não deveria estar sem ele. Pensei em Carlota e no castigo que dei a ela recusando o convite de remar a duas, afinal eu é quem tinha perdido a hora. Na filosofia da canoa havaiana, as diferenças se resolvem remando. Apaziguam-se os ânimos com a energia das remadas e depois, mais leves, pacificados, somos capazes de pacificar.
- Comandante, eu vou voltar! Meu espírito está inquieto!
- É? Segue então teu coração.
- Ok. Está tranquilo?
- Tranquilo!
Rodrigo seguiu para Charitas tranquilo. Apesar do mar grande, o Comandante tem essa qualidade de nos passar segurança. Energia boa que entrou em mim e me deu tranquilidade para voltar sozinha e tranquilidade em acreditar que ele também estaria bem. O mar estava enorme! A filmagem nem dá a dimensão... Depois liguei e soube que a chegada em Charitas foi maravilhosa e muito bem acolhida pelo povo flutuante de lá. O retorno foi mais cansativo e Jurupi ficou na Praia da Urca aguardando a remada de amanhã.
Preciso contar que além de toda essa energia vivida, o dia estava lindo de azul e amarelo, cores nítidas como há tempo não via, o canal estava imundo de lixo flutuante e trouxe comigo até mais um tripulante sobre Juréia. Muitas garrafas pets, muito isopor, uma tristeza de dar dó diante daquele dia lindo e do contorno deslumbrante que as montanhas fazem para as beiradas.
Lá longe era assustadora a forma como o mar engolia o Cara de Cão. Lambia sem dó o paredão do forte gritando para as embarcações passarem bem ao largo! Mas cuidado! Bem ao largo também as ondas lambiam sem dó o Forte do Lage. Ou seja, a boca da barra estava de arrepiar, do jeito que alguns remadores gostam. O coração apertou de novo.
Acelerei a remada e voltei a tempo de desembarcar com as duas canoas do Praia Vermelha, uma ajuda aqui e outra ali e todas as canoas rapidamente estavam lá dormindo nos cavaletes.
Depois a manhã continuou na conversa com o Rogério e o Hugo e o coração foi acalmando do atraso e percebendo que de um jeito ou de outro as beiradas sempre são terapêuticas, basta ter coração para sentir e capacidade para seguir, tal qual um ajuste, ainda que fora de tempo, do relógio do celular atrasado. Alguns minutos são capazes de redirecionar o nosso dia, cabe a nós saber qual sentimento dar a esse desvio de direção... tranquilidade ou inquietação. Escolhi a tranquilidade para seguir o dia.
NAM MYOHO RENGUE KYO
ResponderExcluirO seguidor da Lei Mística sabe que o sábio mantém a fé inabalável seja qual for o vento, vendo até mesmo na tempestade uma oportunidade para uma vida plena e feliz. Evita a euforia diante dos ventos benfazejos e não se descontrola quando passa o furação. Vive no NAM MYOHO RENGUE KYO, de maneira a se manter impertubável frente as oscilações do cotidiano, não permitindo que nenhuma situação possa abalar sua felicidade.
Do escrito "Os oito ventos" de Nitiren Daishonin.
NAM MYOHO RENGUE KYO
ResponderExcluirNAM MYOHO RENGUE KYO
NAM MYOHO RENGUE KYO
NAM MYOHO RENGUE KYO
NAM MYOHO RENGUE KYO
Namastê!