Porque insisto em pensar se vale a pena levantar de manhã com frio, debaixo de chuva e com vontade de dormir mais? Pois é, vale. Sempre vale.
Por mais um pouco fico na cama, principalmente depois de ouvir o barulho da chuva. Essa dúvida causou um atraso que me fez perder a vaga na canoa de seis remadores.
Dia já claro com o sol ainda levantando e a canoa já estava quase montada por ali. Chicó também sem vaga entrava no mar de individual junto com Silvinha. Silvia hoje estava de colete, deve saber do mar que anda beirando as beiradas.
O jeito seria colocar Abaeté nas águas, o que não seria nada ruim.
As águas andam bastante sujas, cheia de lixo boiando, tal qual as areias por ali entre o cavalete e a água. Pertinho das beiradas está mais limpo até porque o mar continua lambendo com muita vontade por ali. A canoa de seis aguardou atenta a hora de entrar e com a ajuda do Paulo driblou as lambidas traiçoeiras. Fábio quase perde o bonde e só coseguiu subir depois de passada a arrebentação. Arrebentação quebra coco, arrebentação quebra canoa.
Carla ficou de fora da canoa de seis comigo e colocaria Abaeté para passear. Muita atenção para entrar com Abaeté, vai, volta, vai, volta, vaiiiiiiiiiiii, voooooooooooolta. Olha a onda! Desce a canoa, descansa o braço... pega a canoa. Agora! Vamoooooossssss! Entrada rápida e já apontávamos para a ponta do Leme, tal qual as demais canoas.
O céu esburacado alternava o cinza e o azul e para surpresa nossa nem um pingo de chuva caiu durante todo o trajeto. Remamos sob um céu azul lindo das beiradas da Urca até a Ponta do Posto 6. Uma ondulação deliciosa levou a canoa: hora no deslize da descida da onda, hora no esforço para vencer o repuxo. Já não vimos as outras canoas, demoramos a entrar na água.
O mar está diferente de ontem, com maré cheia, com ondulação grossa mas muito menos anárquico, com jeito é possível lemear a canoa sem deixar o casco bater e aproveitar o balanço cadenciado do mar. No Posto 5, continua um grande sorriso lambendo em direção à beirada de Copa, mas sem arrebentar.
Hoje não havia carneirinhos sobre as águas, a ondulação estava mais encorpada e nada de vento para atrapalhar.
Um arco íris lindo se apresentou na chegada do Posto 6, momento de parar, de fotografar, de contemplar. É como se o mar em retribuição a nossa presença estendesse um imenso tapete azulado para nós passarmos. O céu para não ficar atrás ficou lá azulzinho, mandando aquele arco íris que faz tempo não via pelas beiradas. Meio fraco, mas arco íris. Com todas as cores que merecíamos.
Não colamos a canoa no costão do Forte pois o mar ali estava encapetado. Muitos carneiros, um verdadeiro rebanho. Carneiros vindo de todos os lados. Mais tarde Fábio contou que desceu duas ondas enormes lemeados pelo Léo. Já Abaeté ficou ali ao largo olhando o mar enfurecido que quebrava sobre a lage. Lindo! De longe! De perto também... mas não tão perto!
Feio mesmo só o lixo boiando por ali e a surpresa triste de ver duas gaivotas mortas. Pensei que fossem pinguins mas ao nos aproximarmos constatamos ser gaivotas. Triste.
Avistamos a canoa de seis remadores voltando veloz e resolvemos fazer meia volta também. A ondulação nos levou muito mais rápido do que fomos e, ao contrário do que pensava, o mar fez um pacto com Abaeté e nos deixou passar sem qualquer atrito do casco com o mar. Inclusive no contorno do Costão do Leme. O mar já estava irreconhecível, como bicho domado. Não quieto. Não dormindo. Mas se movimentando junto com o trio: eu, Carlinha e Abaeté.
No desembarque a atenção redobrada. Miramos Abaeté para o centro da praia para aproveitar a boca de corrente que tem por ali. É mais forte a explosão da onda no centro mas em compensação não nos lamberia lateralmente!
- Vou lançar meu corpo! Grita Carla.
- Como assim? Ai.
Só foi o tempo de descer uma onda, embicar a canoa para as beiradas e jogar o corpo na água para segurar a popa de Abaeté. Carla desceu rápido e segurou a proa. Em uma corrida curta já estávamos na areia descendo a canoa e rindo. Entendi errado. Ela lançaria o remo e não o corpo. Mas funcionou. Me fez acelerar a descida, como se deve fazer com o mar assim.
Valeu a remada, hoje as beiradas estão com outra roupa. Mais justas, mais confortáveis! Agora uma chuva incessante cai lá fora aumentando a sensação de que a pausa matinal foi um presente para quem se lançou ao mar. O arco íris? Ah, esse foi o laço do embrulho!
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