segunda-feira, 16 de agosto de 2010

16 de agosto de 2010 Transformando o medo em respeito!



Esse foi o tom de hoje, a transformação do medo em respeito. A transformação do turbilhão de pensamentos em filosofia.
Dia de sair só com Janaína.                     
Dia carregado de nuvens e de frio, dia de pensar mil vezes antes de levantar da cama ou mesmo de nem pensar e se jogar para as beiradas.


Nas areias já cedinho às seis estavam Jorginho e Machado, de braços cruzados olhando para o mar e para as ondas que mordiam furiosas as areias.
-  Frio? Preguiça?
- Não, estamos pensando se vale a pena entrar, o mar está quebrando muito. Estamos pensando depois para sair, ele pode subir mais ainda!




Putz, péssimo começo esse encontro ali, desanimador. Eu, Janaína e aquelas beiradas frias e anárquicas sendo colocadas em dúvidas pela dupla assídua das beiradas. Mais um pouco e chegava Chinês com uma disposição ainda maior do que a minha. Não teve jeito, canoas ao mar!
Logo de saída veio uma onda e Janaína apontou para o céu e enterrou o leme na areia. Não! Definitivamente não, seguro Janaína e tento nos acalmar. Janaína querida, ainda não aprendemos a voar!  




Depois de respirar fundo seguimos em direção ao Costão do Leme que hoje queria a todo custo ver remadores ao mar. Samba daqui, samba de lá. Uma loucura! Em um momento ouvi um rasgo do velcro soltando o banco da canoa e foi como se cortasse de leve meu coração. Ai, lá vai meu equilíbrio. Banco solto, mar revolto e os meninos virando a ponta e sumindo, sumindo, sumindo nos vales que formavam entre as vagas.





Coragem, mais um pouco e teríamos a chance de ajeitar o banco. Esse pouco durou muito, o mar não queria acalmar. Acalmamos nós então e aguardamos um lugar mais seguro para nos ajeitar.
Não sei se eram os olhos atentos nos cumes das vagas que trouxeram a sensação de um mar sem lixos na superfície. O mar pareceu limpo!



Turbilhão de pensamentos e eu ali tentando converter em aprendizado, em filosofia, em comparações do mar com a vida. Indo assim pensava no cotidiano e acreditava que na altura do Posto 2 tudo iria melhorar já que a turbulência é característica das viradas. Lêdo engano, o anarquismo do mar se estendia até bem perto do Forte lá no Posto 6. Paradas para fotografias e a popa era direcionada em um segundo para as beiradas, o horizonte ficava ali, torto,  difícil de estabilizar sobre a canoa.
Mas Janaína foi seguindo mesmo depois de ter perdido as outras canoas de vista. O mar estava verde lindo, o céu cinza com uns buracos azuis, uns carneirinhos passeavam sobre a superfície morna. Janaína seguiu, teimosa, transformando aos pouquinhos o medo em respeito e aprendendo mais uma vez que a calma nessa hora é quem deve ditar o ritmo. Temos tempo, sendo assim remada em cadência lenta e profunda.

De repente umas vagas enormes surgem na nossa frente. Olho para as beiradas e percebo que já estávamos ali no Sorriso, frente ao Posto 5, sorriso de lado, irônico mas sem mostrar os dentes. Passamos sem maiores problemas naquele sobe e desce gigantesco do mar.





Chegando ao posto 6 é que pude avistar Jorge e Chinês já voltando. Machado não vi mais. Maré muito cheia, ondas cheias também mas sem estourar. Nada de surf por ali.
Um vento sudoeste soprava fraco por ali e prometia uma volta mais rápida. Janaína terminou seu trajeto de ida apesar de se perceber só comigo e fez meia volta para não ficar muito longe dos demais remadores. Afinal hoje o mar não estava para brincadeira. Mas os meninos foram indo e  a cada fotografia a distância aumentava ainda mais. Mas não podia deixar de registrar.
Vamos então transformar o turbilhão de pensamentos e filosofar, pensar na vida, nas sensações  que essas situações adversas nos causam.


Um retorno suave ali e um deslizar de Janaína me fizeram acreditar que meus temores eram em vão. O mar nos levava com leveza e deslize. Recompensa pela  perseverança? Nem tanto. Foi só se aproximar um pouco mais do Leme e já subiu novamente a ondulação e as vagas vinham de todos os lados. Pensamento firme num só propósito: - Não virar! Desvirar a canoa ali seria um trabalho danado, apontar a proa para onde se as ondas me lambiam e mordiam de todos os lados? Machado depois contou que virou e passou um certo sufoco por ali para desvirar. Percebi pelo balanço do mar.





Janaína batia violentamente a barriga sobre as águas e meu coração batia violento contra as costelas. Coragem, logo ali está a ponta e a Ilha do Anel já estará no campo de visão. Ô passagem turbulenta de danada!






Passagem em frente ao Anelzinho e a falta de vontade de contorná-lo. Estávamos exaustas, não pelo esforço da remada mas pelo esforço de manter o equilíbrio. Equilíbrio não só do corpo com a canoa, mas da emoção com a razão.



Pensamento fixo na imagem do Jorjão torcendo para que ele recebesse Janaína com aquele sorriso matinal e a carregasse nos braços para o cavalete. Ai, triste ilusão. Mal virei a ponta e já vejo Jorjão entrando de barco com Daniel. Duas sensações de desamparo: uma a dele vindo quando estávamos indo, outra da hesitação de ambos em entrar anunciando que o mar estava mordendo com vontade por ali.

Paciência, calma Janaína. O pior nós já passamos, estamos bem perto da beirada.
Não tivemos o auxílio quente do Jorjão mas surge correndo o Jorginho, queridíssimo, amabilíssimo e salvador! Desembarque tranquilo com os santos de céu e de terra ajudando e logo Janaína descansava no cavalete.


Não podia deixar de fechar a página com o sorriso do trio que encorajou Janaína a entrar naquele mar e deu uma sensação de segurança, ainda que fora do campo de visão.
Que venha o dia com todos os seus sustos, surpresas, turbulências e calmarias... Aprendizado do dia: com coragem e cautela a solidão vira filosofia.

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